Volumes crescentes de dados são produzidos todos os dias a partir de dispositivos, sensores e sistemas conectados ou não à internet. Em uma cidade do porte de Brasília, são criados diariamente sete milhões de linhas de novos dados. Nos estados, municípios e governo federal, bilhões de linhas de dados são gerados a cada dia, contemplando mídias sociais, demonstrações financeiras, registros de saúde etc.
O especialista em Big data, Martin Hilbert, estimou em 2014 que se colocássemos toda informação disponível em formato de livros e os empilhássemos, teríamos 4.500 pilhas de livros da superfície terrestre até o Sol. E esse crescimento está se acelerando. Estimativas mais recentes reportam que os dados saltariam para mais de 10 mil pilhas de livros chegando ao Sol.
Entretanto, uma fração residual desses dados, menos de 1%, são tratados, analisados e transformados em valor para organizações ou políticas públicas. Ou seja, um estoque significativo de oportunidades provenientes de insights e ideias com base em dados podem ajudar a identificar e endereçar importantes soluções para os problemas públicos complexos em diversas áreas.
Essa quantid ade de dados cresceu de forma exponencial nas últimas 3 décadas. Esse fato torna apto um novo mundo de oportunidades. Para tanto, um esforço de tratamento e análise é requerido para que dados sejam transformados em “informação habilitadora de soluções” para as organizações, com foco interno ou externo. A análise faz a transformação de dados (a partir de um “amontoado” de números/textos) em informação dotada de propósito.
Nesse contexto, as organizações públicas estão assentadas sobre uma abundância de dados que evidencia um cenário de RDPI, ou seja, Rica em Dados, Pobre em Informação. Esses dados são como uma “mina” de valor que, ao serem tratados e lapidados, permitem extrair resultados extraordinários.
Os governos podem se beneficiar desse volume de dados (numéricos e/ou textuais) e construir políticas mais assertivas, com eficiência e efetividade verificadas. Por exemplo, pode-se analisar dados sobre as necessidades, expectativas e preferências dos cidadãos, posicionamento geográfico, rotinas e picos de demandas, entre muitas possibilidades. Os órgãos passam a ser capazes de extrair padrões, recorrências e tendências, bem como predizer com maior grau de certeza os fluxos de entrega e percepção de valor pela sociedade e, assim, definir com precisão e tempestividade os rumos que se espera dos órgãos de governo.
Nesse novo contexto, as decisões das organizações, do operacional ao estratégico, passam a ser fundamentadas em dados e evidências, constituindo bases relevantes para a formulação e execução do planejamento institucional.
O papel dos dados no governo deixa de ser simplesmente uma coleção de informações para se tornar uma importante fonte para prever e moldar as necessidades futuras, assim como responder às demandas de cidadãos e servidores públicos em prazos cada vez mais curtos. É por isso que os órgãos devem adotar data analytics; não só para melhor compreensão do contexto organizacional (interno e externo), mas, sobretudo, para transformar os dados em combustível para insights e eficiência.
Contudo, muitos desafios cercam as organizações que não foram projetadas para lidar com a complexidade e a dinamicidade desses dados, bem como, a fim de extrair o potencial existente neles. Em 2018, a The Economist Intelligence Unit realizou uma pesquisa com mais de 400 executivos em 8 países-chave, entre economias avançadas e também em desenvolvimento: Alemanha, México, África do Sul, França, Tailândia, Polônia, EUA e Reino Unido. Ao perguntar sobre os principais desafios estratégicos de se trabalhar com dados e com inteligência artificial, os entrevistados do setor público colocaram a modernização da TI (26%) e a incerteza econômica (25%) como os maiores desafios estratégicos.
A maioria das organizações públicas está em processo de amadurecimento de suas arquiteturas de TI e modelos de governança de dados para disponibilizar um ambiente favorável à aplicação das soluções de data analytics, além do potencial de alcance e benefícios provenientes da Inteligência Artificial (IA). A incerteza econômica citada em segundo lugar, por sua vez, não pode ser um motivo para não explorar soluções com base em dados, pois, conforme constatação dos avaliadores da pesquisa, sempre existirão executivos e gestores que utilizam a incerteza como uma desculpa para se ter cautela acentuada em relação aos riscos inerentes à implantação de novas iniciativas. A mentalidade recomendada é que a incerteza econômica incentive ainda mais a avançar e a implantar soluções do estado da arte, da fronteira do conhecimento.
Embora hajam muitos desafios a serem enfrentados, o saldo é bastante positivo. Mais de 73 % dos dirigentes e gestores públicos afirmaram acreditar que o uso intensivo de dados e IA irá melhorar a gestão pública, seja, com a inovação em processos e produtos (serviços e/ou bens) ou pelo engajamento do cidadão.
A oportunidade de geração de soluções é enorme e ensejará em ganhos de produtividade e valor público, se for conduzida de maneira correta.
Constatações:
- Existe um volume (e velocidade e variação) de dados sem precedentes;
- Dado é um recurso ubíquo que podemos tratar e analisar para prover insights, inovações e novas perspectivas;
- Desde que: se façam as perguntas certas e se trabalhe do jeito certo, achados interessantes poderão surgir.